quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Inscrições abertas para a 4ª Jornada Ecumênica




4ª JORNADA ECUMÊNICA: Ecumenismo, Ecologia, Economia e Vida
“... e vossos jovens terão visões...” Joel 2.28

Desde 1994, quando foi realizada 1ª Jornada Ecumênica, passando pela 2ª Jornada, em 2002, grandes transformações continuam acontecendo no mundo, onde cada vez mais o desrespeito aos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais estão globalizados, caracterizando o aprofundamento do abismo entre ricos e pobres.
Se o símbolo da 2ª Jornada Ecumênica foi laços, o da 3ª Jornada foi redes. Desde então, essas redes - entre jornadeiros/as, igrejas, organizações e instituições ecumênicas, com movimentos e organizações sociais - vem se estabelecendo, possibilitando um processo de criação, ampliação e fortalecimento do movimento ecumênico no Brasil e demais países da América Latina e Caribe.
O principal desafio da 4ª Jornada Ecumênica, que tem como tema ECUMENISMO, ECOLOGIA, ECONOMIA E VIDA, será o de construir incidência pública-política (advocacy) para além da família ecumênica congregada na América Latina e Caribe. Além disso, os desafios da justiça climática impõem para a comunidade ecumênica uma atitude coletiva, capaz de demonstrar nossa contribuição com o empoderamento das populações mais vulnerabilizadas devido a essas questões. A juventude será o eixo transversal das discussões - na afirmação dos Direitos (DHESCA) das populações e nos diferentes contextos e biomas em que habitam - em uma jornada com caráter litúrgico celebrativo.
Participantes
Todos os jornadeiros/as e grupos, leigos/as e clérigos/as, com prioridade para as mulheres, as juventudes, os povos tradicionais e todos/as defensores/as de Direitos (DHESCA).
Data e local
11 a 15 de novembro de 2010, Vila Kostka, Itaici, Indaiatuba, São Paulo, Brasil.
Inscrições (VER FICHA DE INSCRIÇÃO EM ANEXO)
A taxa de inscrição, que inclui a hospedagem e alimentação, é de R$ 360,00 e poderá ser paga em duas parcelas:
1ª parcela de R$ 180,00, até 30 de setembro de 2010
2ª parcela de R$ 180,00, até 31 de outubro de 2010
As taxa integral ou parcelas, deverão se depositadas na conta corrente 15245-5, agência Bradesco 1745-0, em nome de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço.
Para a identificação, solicitamos que seja com o depósito identificado, no qual o nome do/a depositante aparece no extrato.
As inscrições poderão ser feitas das seguintes formas:
Pela Internet, em resposta ao e-mail ou pelo endereço projornada@koinonia.org.br, informando os dados do depósito identificado da taxa integral ou parcelas.
Pelo fax (21)3042 6398, com a cópia do depósito identificado da taxa integral ou parcelas.
Pelos correios, enviando cópia do comprovante de depósito identificado da taxa integral ou parcelas.
Sempre que o/a inscrito/a fizer o depósito das parcelas, deverá enviar uma cópia por e-mail, fax ou correios, com os dados do depósito identificado.
Bolsas
A solicitação de bolsa de participação deverá ser feita na ficha de inscrição, informando o máximo que poderá pagar de taxa de inscrição e os motivos para a sua solicitação.
O mais breve possível, informaremos se dispomos da bolsa solicitada.
Importante! Antes de solicitar uma bolsa de participação, procure esgotar todas as possibilidades de levantamento de recursos junto à sua comunidade religiosa, instituição ou movimento. Desta forma você estará ajudando a outro/a jornadeiro/a, com menos recursos, de participar da Jornada, que para muitos/as, trata-se de uma oportunidade única!

FICHA DE INSCRIÇÃO EM ANEXO

Promoção: FE Brasil e Fe SUD
Clique aqui e baixe o arquivo anexado a essa página.
Autor: Márcia Evangelista
Data: 29/7/2010

  

Extraído de KOINONIA







A Conferência de Edimburgo’2010 e novos desafios da Missão

Marcelo Barros *




Toda pessoa e comunidade envolvida no movimento ecumênico cristão sabe que 2010 marca as celebrações do 5º centenário do nascimento do reformador João Calvino e os cem anos da Conferência Missionária de Edimburgo (Escócia), considerada marco inicial do movimento ecumênico contemporâneo. Apesar de ser menos conhecida entre os católicos e também entre alguns grupos pentecostais e neopentecostais, esta conferência tem suscitado em todo o mundo um profundo interesse teológico e espiritual, não tanto simplesmente para recordar o passado e sim como oportunidade para que as Igrejas e as comunidades cristãs atualizem o seu sentido de missão, se ponham de acordo sobre os novos desafios que a missão cristã enfrenta neste início do século XXI e aceitem vencê-los na unidade ecumênica a serviço do mundo.
É compreensível que o centenário da Conferência de Edimburgo encontre menos eco na América Latina, já que foi uma reunião de missionários que atuavam em países considerados não cristãos. Como a América Latina era tida como cristianizada, já que era oficialmente católica (o que foi, por parte da Conferência um reconhecimento ecumênico de respeito com a Igreja Católica), os latino-americanos foram convidados como observadores, mas não como delegados oficiais. Apesar disso, a Conferência de Edimburgo provocou uma série de iniciativas ecumênicas, como, na América Latina, o Congresso Missionário Latinoamericano no Panamá (1916). 

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Por que persiste a Igreja-poder?

Artigo de Leonardo Boff *


Vou abordar um tema incômodo, mas incontornável: como pode a instituição-Igreja, como a descrevi num artigo anterior, com características autoritárias, absolutistas e excludentes se perpetuar na história? A ideologia dominante responde: "só porque é divina". Na verdade, este exercício de poder não tem nada de divino. Era o que Jesus exatamente não queria. Ele queria a hierodulia (sagrado serviço) e não a hierarquia (sagrado poder). Mas esta se impôs através dos tempos.

Instituições autoritárias possuem uma mesma lógica de autoreprodução. Não é diferente com a Igreja-instituição. Em primeiro lugar, ela se julga a única verdadeira e tira o título de "igreja" a todas as demais. Em seguida cria-se um rigoroso enquadramento: um pensamento único, uma única dogmática, um único catecismo, um único direito canônico, uma única forma de liturgia. Não se tolera a crítica nem a criatividade, vistas como negação ou denunciadas como criadoras de uma Igreja paralela ou de um outro magistério.

Em segundo lugar, se usa a violência simbólica do controle, da repressão e da punição, não raro à custa dos direitos humanos. Facilmente o questionador é marginalizado, nega-se-lhe o direito de pregar, de escrever e de atuar na comunidade. O então Card. Joseph Ratzinger, Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu mandato, puniu mais de cem teólogos. Nesta mesma lógica, pecados e crimes dos sacerdotes pedófilos ou outros delitos, como os financeiros, são mantidos ocultos para não prejudicar o bom nome da Igreja, sem o menor sentido de justiça para com as vítimas inocentes.

Em terceiro lugar, mitificam-se e quase idolatram-se as autoridades eclesiásticas principalmente o Papa que é o "doce Cristo na Terra". Penso eu lá com meus botões: que doce Cristo representava o Papa Sérgio (904), assassino de seus dois predecessores ou o Papa João XII (955), eleito com a idade de 20 anos, adúltero e morto pelo marido traído ou, pior, o Papa Bento IX (1033), eleito com 15 anos de idade, um dos mais criminosos e indignos da história do papado, chegando a vender a dignidade papal por 1000 liras de prata?

Em quarto lugar, canonizam-se figuras cujas virtudes se enquadram no sistema, como a obediência cega, a contínua exaltação das autoridades e o "sentir com a Igreja (hierarquia)", bem no estilo fascista segundo o qual "o chefe (o ducce, o Führer) sempre tem razão".

Em quinto lugar, há pessoas e cristãos com natureza autoritária, que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações. Estes secundam esse tipo de Igreja bem como regimes políticos autoritários e ditatoriais. Aliás, há uma estreita afinidade entre os regimes ditatoriais e a Igreja-poder como se viu com os ditadores Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet e outros. Padres conservadores são facilmente feitos bispos e bispos fidelíssimos a Roma são promovidos, fomentando a subserviência. Esse bloco histórico-social-religioso se cristalizou e garantiu a continuidade a este tipo de Igreja.

Em sexto lugar, a Igreja-poder sabe do valor dos ritos e símbolos pois reforçam identidades conservadoras, pouco zelando por seus conteúdos, contanto que sejam mantidos inalteráveis e estritamente observados.

Em razão desta rigidez dogmática e canônica, a Igreja-instituição não é vivida como lar espiritual. Muitos emigram. Dizem sim ao cristianismo e não à Igreja-poder com a qual não se identificam. Dão-se conta das distorções feitas à herança de Jesus que pregou a liberdade e exaltou o amor incondicional.

Não obstante estas patologias, possuímos figuras como o Papa João XXIII, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luiz Flávio Cappio e outros que não reproduzem o estilo autoritário, nem apresentam-se como autoridades eclesiásticas mas como pastores no meio do Povo de Deus. Apesar destas contradições, há um mérito que importa reconhecer: esse tipo autoritário de Igreja nunca deixou de nos legar os evangelhos, mesmo negando-os na prática, e assim permitindo-nos o acesso à mensagem revolucionária do Nazareno. Ela prega a libertação mas geralmente são outros que libertam.

* Teólogo, filósofo e escritor

Fonte: Adital

domingo, 1 de agosto de 2010

Chegou a hora das pessoas religiosas se levantarem contra as religiões.

A religião é inimiga da civilização? Artigo de Gianni Vattimo

Todos certamente nos lembramos da famosa frase de Nietzsche sobre a morte de Deus. E também sua cláusula: Deus seguirá projetando sua sombra em nosso mundo durante muito tempo. O que aconteceria se aplicássemos a frase de Nietzsche também, e sobretudo, às religiões? Em muitos sentidos, é verdade que, em grande parte do mundo contemporâneo, a religião como tal está morta, mas ainda projeta suas sombras em numerosos aspectos da nossa vida privada e coletiva.

Na verdade, deixemos claro que o Deus cuja morte Nietzsche anunciou não é necessariamente o Deus em que muitos de nós seguimos crendo. Eu me considero cristão, mas estou convicto de que o Deus que estava morto em Nietzsche não era o Deus de Jesus. Inclusive acredito que, precisamente graças a Jesus, sou ateu. O Deus que morreu, como diz o próprio Nietzsche em algum lugar de sua obra quando o chama de "Deus moral", é o primeiro princípio da metafísica clássica, a entidade suprema que se supõe ser a causa do universo material e que requer essa disciplina especial chamada teodicéia, uma série de argumentos que tratam de justificar a existência desse Deus ou dessa Deusa frente aos males que vemos constantemente no mundo.

A tese que quero apresentar aqui é que as religiões estão mortas e merecem estar mortas, tal como Nietzsche fala da morte de Deus. Não estão mortas só as religiões morais, no sentido mais óbvio da palavra: dentro da sociedade cristã e católica da Europa, é fácil ver que são muito poucos os que observam os mandamentos da moral cristã oficial. O que está morto, em um sentido mais profundo, são as religiões "morais" como garantia da ordem racional do mundo.

A institucionalização das crenças, que deu origem às Igrejas, incluiu (não sei se só na prática ou como fator necessário) uma reivindicação do poder histórico, no sentido de que era quase natural e necessário que uma religião moral se convertesse em uma instituição temporal poderosa. É o que parece ter ocorrido com o catolicismo, mas se podem ver muitos outros fenômenos semelhantes na história de outras religiões. Inclusive o budismo gerou um Estado, o Tibet dos lamas, que agora luta para sobreviver frente à China.

Em todas as partes – por exemplo no hinduísmo –, o mesmo fato de que existia uma diferença entre clérigos e leigos faz com que a religião se converta em uma instituição, cujo objetivo principal é sempre a sua própria sobrevivência. Mencionarei novamente o exemplo da Igreja católica: se não tivesse sobrevivido ao longo dos tempos, eu não teria podido receber o Evangelho, a boa nova da salvação. Uma vez mais: como no caso da morte de Deus de Nietzsche, a morte das religiões institucionalizadas não significa que tenham legitimidade. Simplesmente, chega um momento em que já não são necessárias. E esse momento é a nossa época, porque, como se pode ver em muitos aspectos da vida atual, as religiões já não contribuem com uma existência humana pacífica nem representam um meio de salvação. A religião é um poderoso fator de conflito em momentos de intercâmbio intenso entre mundos culturais diferentes. Pelo menos, é isso que ocorre hoje: na Itália, por exemplo, existe um problema com a construção de mesquitas, porque a população muçulmana aumentou de forma espetacular. A hegemonia tradicional da Igreja católica está em perigo, mas os católicos não se sentem ameaçados em absoluto por essa situação, só os bispos e o Papa.

A Igreja afirma que defende seu poder (e os aspectos econômicos dele) para preservar sua capacidade de pregar o Evangelho. Sim, mas, como entre tantas instituições, a razão suprema de sua existência fica muitas vezes esquecida em troca da mera continuidade do status quo. O que quero dizer é que, no mundo atual, sobretudo no Ocidente industrial, a religião como instituição se converteu em um fator de conflito e um obstáculo para a "salvação", seja isso que for. Quero destacar que falo da morte das religiões no mesmo sentido em que aceito o anúncio de Nietzsche sobre a morte de Deus. A religião que está morta é a religião-instituição, que contribuiu enormemente com o desenvolvimento da civilização, mas que, no fim, se converteu em um obstáculo.

Falar da morte das religiões em um sentido relacionado com o anúncio da morte de Deus de Nietzsche não significa, desde então, que a religião nunca tenha tido sentido para a humanidade. Nem sequer se pode dizer que a frase de Nietzsche significa que Deus não existe. Essa seria de novo uma afirmação metafísica, que Nietzsche não queria pronunciar, por sua recusa geral a qualquer metafísica "descritiva". A luta contra a sobrevivência das religiões da qual falo tem pouco a ver com a negação racionalista de todo significado dos sentimentos religiosos. Inclusive se leva muito a sério esse ressurgimento da necessidade de uma relação com a transcendência que caracteriza numerosos aspectos da cultura atual. Citarei novamente Nietzsche, que diz que Deus está morto, e agora queremos que existam muitos Deuses.

Enquanto as religiões seguem querendo ser instituições temporais poderosas, são um obstáculo para a paz e para o desenvolvimento de uma atitude genuinamente religiosa: pensemos em quantas pessoas estão abandonando a Igreja católica pelo escândalo que representam as pretensões do Papa e dos bispos de imiscuir-se nas leis civis na Itália. Os âmbitos da ética familiar e da bioética são os mais polêmicos. Nos Estados Unidos, o recente anúncio do presidente Obama sobre sua intenção de eliminar as restrições à liberdade das mulheres para abortar suscitou uma ampla oposição por parte dos bispos católicos. A oposição a qualquer forma de liberdade de eleição em tudo o que se refere à família, à sexualidade e à bioética é contínua e intensa, sobretudo em países como a Itália e a Espanha. Tenhamos em conta que a Igreja se opõe a leis que não obrigam, mas só permitem a decisão pessoal nesses assuntos. Deveríamos nos perguntas de que lado está a civilização.

Há pouco tempo, o Papa repetiu sua idéia constante de que a verdade não é negociável. Esse "fundamentalismo" é só característico do catolicismo ou de todo o cristianismo? Aqueles que falam de civilizações têm a responsabilidade de levar em conta essa condição concreta. Não têm mais sentido os frequentes diálogos inter-religiosos que se celebram em qualquer parte do mundo, nos quais os interlocutores costumam ser "dirigentes" das diferentes confissões. Dialogam para não mudar nada. Não é mais do que uma forma de confirmar novamente a sua autoridade em seus respectivos grupos. Acaso surge desses frequentes encontros algo útil para a paz e a mútua compreensão dos povos? Enquanto não se elimine o aspecto autoritário e de poder das religiões, será impossível avançar rumo ao mútuo entendimento entre as diversas culturas do mundo.

Essa conclusão pode parecer um grande paradoxo, dado que, em geral, se considerou que a religião era um meio de educar a humanidade à caridade, à piedade e à compreensão. Em muitos sentidos, a compaixão parece ser a base fundamental de toda experiência religiosa. E é verdade, seja do ponto de vista do cristianismo, do budismo, do hinduísmo, do islã ou do judaísmo. Até aqui, nada a objetar.

Mas é justamente por isso que devemos reconhecer que chegou a hora de que as pessoas religiosas se levantem contra as religiões. E que afirmem taxativamente que a era da religião-instituição terminou, e sua sobrevivência só se deve aos esforços das hierarquias religiosas em conservar seu poder e seus privilégios.

O fato de que essa tese parece se inspirar, em grande parte, na experiência cristã (e católica) européia, não limita sua validade para outras culturas. Seguramente, o veneno do universalismo se espalhou pelo mundo graças aos conquistadores europeus, que são responsáveis pela estrita associação entre conversão (ao cristianismo. Lembre-se o "compelle intrare" de Santo Agostinho) e imperialismo. Agora é o mundo latino o que deve romper essa associação e separar a salvação de qualquer pretensão de crença e disciplina universal como condição para alcançá-la. Não é uma tarefa fácil.

Fonte: (El País e Unisinos)